Ao observarmos o conjunto da poesia moçambicana contemporânea, verificamos que, em grande parte, essa produção poética dos últimos vinte anos, opera, tematicamente, com resíduos de sonhos, desejos, sentimentos, paisagens e memórias que resistiram às guerras e resistem, hoje, a novas pressões sociais e políticas. Se durante os tempos das lutas pela libertação, uma significativa parcela dos poemas produzidos se fez arma ideológica de combate ao colonialismo, atualmente, os discursos poéticos se revelam sob formas diversas, apresentando outras maneiras de resistir.
Buscando outros ritmos, pulsações e novos ventos literários, Mia Couto e Patraquim reativaram, na cena literária moçambicana do início dos anos 80, uma poesia de cariz existencial, preocupada não só com as emoções interiores, mas com as origens, com as paisagens do presente e do outrora, com o próprio fazer poético. Rebelando-se contra paradigmas literários articulados pelo ethos revolucionário, evidenciaram como, em razão destes, muitos doscidadãos moçambicanos se encontravam despojados de suas singularidades. Defensores de uma dicção poética subjetiva, fizeram ponte entre o antigolirismo e o de Charrua (que despontaria em 1984), comprovando que a poesia lírica sempre arriscou em Moçambique
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